Audiência aconteceu na cidade de Caratinga e contou com o apoio da ATI Cáritas Diocesana de Itabira

Na noite da última terça-feira (31), aconteceu na câmara de vereadores de Caratinga, uma Audiência Pública para debater a situação das pessoas atingidas de Cordeiro de Minas e da Ilha do Rio Doce para tratar dos danos sofrido após o rompimento da barragem de Fundão, ocorrido em novembro de 2015.
Participaram da audiência atingidos e atingidas do distrito de Cordeiro de Minas e das comunidades de Ilha do Rio Doce e Porto Seguro , os vereadores Giuliana Quintino e Johny Claudy Fernandes da cidade de Caratinga, bem como o presidente da câmara José Cordeiro de Oliveira, o Promotor de Justiça de Caratinga Denis William Rodrigues Ribeiro, as Assessorias Técnicas Independentes Cáritas Diocesana de Itabira e a Associação Estadual de Desenvolvimento Ambiental (AEDAS).
Dentre os objetivos do encontro, foram abordados os seguintes pontos de pauta:
1. Pedido à Fundação Renova e Prefeitura Municipal de Caratinga para a realização de escutas especializadas das pessoas atingidas das comunidades atingidas do município de Caratinga, para levantar a real e atual situação das famílias depois de oito anos do rompimento da barragem Fundão, ocorrido em 05 de novembro de 2015;
2. Solicitar à Prefeitura Municipal de Caratinga, informações se houve recebimento de valores da Fundação Renova devido ao rompimento da barragem, assim como em que situação ou para o quê foi ou será utilizado;
3. Que seja solicitado à Fundação Renova informações sobre o processo de cadastramento das pessoas atingidas do município, bem como a reabertura do cadastro nas comunidades atingidas, e ainda em quais programas de reparação o município de Caratinga faz ou poderá fazer parte;
4. Que seja informado como está sendo a participação do município no processo da repactuação; e a participação no fórum dos prefeitos da bacia do Rio Doce.
“É muito importante que a gente saiba a que viemos, e por que viemos: pela luta dos nossos direitos, pela luta do que é nosso, principalmente pelos bens que a gente tem, a nossa água, o meio ambiente e cada um buscando pelos seus ideais e pela justiça”, diz Giuliana Quintino.
Quando recebi esse convite não tive dúvida da necessidade da presença do ministério público. O Ministério Público é sensível à demanda dos senhores e é uma demanda legítima.”, diz Denis William Rodrigues Ribeiro, Promotor de Justiça de Caratinga.

Pessoas atingidas de Cordeiro levam reivindicações durante Audiência e questionam qualidade da água
A atingida da comunidade de Cordeiro de Minas, Cristiane da Silva, reforçou a importância de que as reivindicações das pessoas atingidas sejam ouvidas pelos representantes do poder público. “Pedimos a reabertura dos cadastros da Fundação Renova, a realização das análises ambientais, principalmente acerca da qualidade da água das lagoas, poços e cisternas presentes no distrito. A realização de estudos de avaliação de risco à saúde humana. Queremos e temos direitos de saber onde foram aplicados os recursos aplicados”. Cristiane da Silva, Cordeiro de Minas.
“A minha dignidade foi embora. Se nós estamos aqui hoje, vamos agradecer à Assessoria Técnica. Quando a Cáritas chegou em Cordeiro de Minas, nós estávamos na zona cinza, não tínhamos informação nenhuma, antes não soubemos de nada e não tivemos direito de nada. Não tivemos direito de voz. Os cartazes que nós trouxemos até hoje não tiveram uma resposta sequer. Peço à Deus e ao nosso Senhor Jesus Cristo, que tenha misericórdia desse povo.”
Além das reivindicações sobre os cadastros, foi observado pelas comunidades atingidas de Cordeiro de Minas e da Ilha do Rio Doce as incertezas sobre a qualidade da água que consomem desde o rompimento. Por isso, ao final da Audiência Pública foi solicitado pelas pessoas atingidas que sejam feitas análises de água nas comunidades, a fim de se entender de fato qual a verdadeira situação da qualidade da água que consomem.
A Atingida Vera Lúcia Alves, da comunidade de Cordeiro de Minas explica o quanto o tema da água é importante e por isso, tão presente nas reivindicações dos atingidos e atingidas. “A riqueza de Cordeiro são as Lagoas, são oito Lagoas naturais, no entanto, contaminadas, desleixadas. O nosso povo está doente, e sabe o pior? Toda semana morre alguém em Cordeiro, a maioria de câncer. Quase todos sentem dor no estômago e reclamam o tempo todo. Será que isso não é água?” pergunta.
O presidente da Câmara de Vereadores de Caratinga, José Cordeiro, reforçou que será encaminhado o pedido. “Sobre a questão da água, a gente vai ver se pela Câmara podemos encaminhar este exame, havendo legalidade política, iremos encaminhar isto de forma mais precisa e célere possível. Nós nos comprometemos com um procedimento fiscalizatório para apurar esta qualidade da água.” ressalta.
Geisiane Lima, coordenadora geral da ATI Cáritas Diocesana de Itabira reforça a importância do acompanhamento da Assessoria Técnica Independente frente às demandas das pessoas atingidas da comunidade de Cordeiro de Minas, “não há dúvidas sobre o quanto tem sido fundamental o acompanhamento que temos feito, de diálogo, de pensarmos em conjunto com as pessoas atingidas nas demandas das comunidades e sobre como apresentá-las nos espaços que são necessários, e o quanto isso vem surtindo efeitos na busca pela reparação integral. Nosso compromisso se mantém com todas as demais comunidades que assessoramos e não vamos medir esforços para estarmos sempre juntos em espaços como o de hoje.” reforça.
Leia as reivindicações das pessoas atingidas de Cordeiro na íntegra clicando aqui
Ao final, o Promotor de Justiça esclareceu que já houve uma ação ajuizada pelo promotor que atuava anteriormente que tratava justamente sobre o abastecimento de água para população atingida de Cordeiro de Minas e da Ilha do Rio Doce. “Eu imagino a dificuldade que os senhores e senhoras estão passando para as necessidades mais básicas como alimentação, água banho e sabemos que isso tem repercussão em diversas áreas como a sanitária e muitos outros aspectos. No dia 20 de novembro terá uma nova audiência na 1ª vara cível que será uma excelente oportunidade para trabalhar na ação judicial a respeito desta água. Da necessidade de fornecimento de água, não apenas uma água, mas uma água potável, uma água adequada, uma água que qualquer ser humano merece tomar e é uma necessidade de todos.”, conclui.
